Mais de uma centena de mortos, incluindo cerca de 30 meninas e adolescentes, é o saldo trágico das chuvas torrenciais e enchentes que devastaram o Texas desde a última sexta-feira, 4 de julho. As operações de busca e resgate concentram-se no entorno do Rio Guadalupe, onde dezenas de pessoas permanecem desaparecidas.
Enquanto famílias enlutadas se preparam para os funerais e outras aguardam ansiosamente por notícias de seus entes queridos, questionamentos sobre as causas da tragédia e o elevado número de vítimas vêm à tona. As autoridades confirmaram a morte de pelo menos 27 meninas do acampamento cristão Mystic, surpreendidas pela força das águas.
O Texas, de acordo com especialistas, é o estado americano com o maior número de mortes por inundações. De 1959 a 2019, mais de mil pessoas perderam a vida em decorrência dessas tragédias. A área afetada, conhecida como “Beco das Enchentes Relâmpago”, apresenta características geográficas que favorecem as inundações repentinas. A combinação de colinas escarpadas, solos pouco absorventes e riachos rasos contribui para a rápida elevação do nível da água, transformando rios em torrentes devastadoras. A Escarpa de Balcones, com seus penhascos e colinas, também intensifica as chuvas localizadas.
A suspeita de que os alertas foram emitidos tardiamente ganha força. Embora o Departamento de Gestão de Emergências do Texas (TDEM) tenha acionado recursos estaduais e o NWS tenha emitido alertas de inundação, o governador Greg Abbott atribuiu a dimensão da tragédia à imprevisibilidade do desastre. O diretor do TDEM admitiu que nem todos receberam os alertas devido à falta de cobertura de celular em algumas áreas. A ausência de um sistema de alerta contra enchentes no condado de Kerr, devido ao alto custo, também é apontada como um fator agravante.
A imprensa americana especula sobre o impacto dos cortes orçamentários e de pessoal implementados pelo governo Trump, que teriam afetado a capacidade de monitoramento e alerta climático do NWS. A falta de hidrólogos e meteorologistas em escritórios do Texas é apontada como um fator de risco. O governo nega as alegações, mas reconhece a redução de pessoal no NWS sob a administração Trump.
Entre as vítimas identificadas, estão as irmãs Blair e Brooke Harber, além do diretor do acampamento cristão Mystic, Richard “Dick” Eastland. Julian Ryan, de 27 anos, também perdeu a vida ao tentar salvar sua família. O número de desaparecidos e a persistência das chuvas alimentam o temor de que o número de mortos continue a aumentar.