O grupo Hamas divulgou no sábado um vídeo angustiante mostrando um refém israelense, identificado como Evyatar David, cavando o que ele descreve como sua própria cova em um túnel em Gaza. A divulgação ocorreu um dia após a publicação de outro vídeo de refém.
No vídeo, datado de 27 de julho pelo próprio David, o israelense relata estar há dias sem se alimentar adequadamente, devido à escassez de comida. “Olhem para mim, vejam como estou magro. Isso não é ficção, isso é real. Não há comida”, desabafa. Em seguida, recebe uma lata de lentilha, que descreve como seu único sustento para os próximos dias, “apenas para me manter vivo”.
A cena seguinte mostra David usando uma pá para cavar no chão de terra. “O que estou fazendo agora é cavando a minha própria cova. A cada dia, meu corpo fica mais fraco. Essa é a cova onde acredito que serei enterrado”, lamenta.
A divulgação do vídeo ocorre em meio a uma grave crise humanitária em Gaza, onde a população enfrenta risco de fome extrema, segundo a ONU. Acredita-se que o Hamas pretenda pressionar Israel a enviar mais alimentos para a região.
O irmão de David, Ilay, expressou seu desespero durante um protesto em Tel Aviv, onde milhares se reuniram exigindo a libertação imediata dos reféns. “Na atual condição inimaginável, eles podem ter apenas alguns dias de vida”, alertou.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Sa’ar, condenou o vídeo, afirmando que “o mundo não pode permanecer em silêncio diante das imagens difíceis que são resultado do abuso sádico deliberado dos reféns, o que também inclui a fome”.
As negociações indiretas entre Hamas e Israel, com o objetivo de um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de metade dos reféns, terminaram em impasse na semana anterior.
Paralelamente, o enviado do governo dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, informou a famílias de reféns sobre um plano em colaboração com o governo israelense, visando a reconstrução de Gaza e, consequentemente, o fim da guerra. Witkoff também alegou que o Hamas estaria disposto a se desarmar, o que foi negado pelo grupo, que reafirma que só deporá as armas com o estabelecimento de um estado palestino independente com Jerusalém como capital.
A situação humanitária em Gaza continua se deteriorando. Há relatos de mortes por inanição. Catar e Egito, mediadores nos esforços de cessar-fogo, apoiaram uma declaração da França e da Arábia Saudita delineando medidas para uma solução de dois Estados para o conflito.
Israel responsabiliza o Hamas pelo sofrimento em Gaza, afirmando estar tomando medidas para aumentar a ajuda humanitária, incluindo interrupções diárias nos combates em algumas áreas e lançamentos aéreos. Agências da ONU consideram os lançamentos aéreos insuficientes, defendendo maior acesso terrestre para a ajuda.
O conflito teve início em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas matou mais de 1.200 pessoas e fez 251 reféns em um ataque a Israel. A ofensiva israelense já resultou na morte de mais de 60.000 palestinos, de acordo com autoridades de saúde de Gaza. Segundo autoridades israelenses, 50 reféns permanecem em Gaza, com a estimativa de que apenas 20 estejam vivos.