Guerra no Sudão: Risco de Divisão Aumenta com Governo Paralelo Paramilitar

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Após mais de dois anos de conflito, o Sudão enfrenta a possibilidade real de se dividir em dois, com a formação de um governo paralelo por forças paramilitares. O Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (FRS) lutam pelo controle de al-Fashir, a última base militar na região de Darfur, em um embate que já resultou em assassinatos étnicos, fome e deslocamentos em massa.

A coalizão liderada pelas FRS anunciou recentemente os membros de seu governo paralelo. Embora ainda não tenha estabelecido instituições formais ou obtido reconhecimento internacional, analistas alertam que a medida pode levar à fragmentação do país, a exemplo do ocorrido em 2011, quando o Sudão do Sul se tornou independente.

O Exército sudanês e as FRS, que em 2019 trabalharam juntos para derrubar o governo civil, entraram em guerra em abril de 2023, após uma tentativa de integrar os paramilitares ao Exército. Em maio, o Exército instalou um primeiro-ministro, que começou a nomear ministros para um novo governo, mas a formação do gabinete foi dificultada por disputas internas.

Atualmente, o Exército sudanês controla os estados do norte e leste, além de ter reconquistado áreas na região central e Cartum, onde pretende se estabelecer oficialmente. Já as FRS controlam a maior parte de Darfur, com exceção de al-Fashir, e se aliaram a um grupo rebelde que controla áreas do estado de Kordofan do Sul. Os estados de Kordofan Ocidental e Kordofan do Norte, ricos em petróleo, continuam em disputa. Recentemente, as FRS assumiram o controle do “triângulo fronteiriço” ao norte, expandindo seu domínio territorial.

Em fevereiro, as FRS formaram a coalizão “Tasis”, visando construir um governo único para o Sudão. Em maio, a coalizão assinou uma constituição e, em julho, anunciou a formação de um conselho presidencial liderado pelo chefe das FRS, incluindo governadores regionais e um primeiro-ministro.

Analistas temem que a formação de governos paralelos possa levar a um impasse ou fragmentação ainda maior, com outros grupos armados reivindicando territórios. A cooperação internacional para reconstruir a economia e a infraestrutura do Sudão pode ser prejudicada. A ONU e a União Africana condenam o governo paralelo dos paramilitares, e a proliferação de milícias nas áreas controladas pelas FRS representa um desafio crescente. O Exército sudanês, apesar do reconhecimento internacional e do apoio de potências regionais, enfrenta hesitação de muitos países devido ao golpe de 2021 e à influência de radicais islâmicos. O chefe do Exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, é alvo de sanções dos EUA.

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